segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Anatomia Poética (Entre-Vista entre-Versos): Letícia Brito ‏#1

Começamos um novo projeto de entrevista com poetas, na Verdade retomamos, mas agora com um formato mais maduro... Será uma entrevista por mês, até o final do Ano até construirmos um panorama poético nacional... Mas podemos extravasar esse número de entrevistas dependendo da resposta do público. Para Abrir com chave de ouro nossa primeira convidada é Letícia Brito. 



Começo agradecendo o convite, penso que vai ser divertido responder às suas perguntas!

Quando e como começou a escrever?
Comecei a escrever poesia na escola, o tema da redação foi "O dia em que chorei" e fiz a redação em forma de poema, tinha 12 anos.

O que te inspira?
Tudo é poesia, tudo pode virar poema, mas me inspiram a dor, o preconceito e a injustiça.

E como é o processo criativo, tem uma formula?
Gosto de experimentar, já tentei fazer soneto, contar sílabas, já fiz versinhos. Fórmula pra fazer poesia é como remédio pra emagrecer. Existem muitas formulas e nenhuma que funcione. Eu me libertei dos versinhos lendo Ferreira Gullar. O que funciona é experimentar, escrever e esperar alguém que ature te ouvir. E nem tudo funciona pra todos; o importante é você estar satisfeito com o que escreveu. Existem poemas que enterro na gaveta por uns meses antes de retomá-los, eles tem um tempo de latência e às vezes a gente precisa de um amadurecimento pra corrigi-los, é um embate, mas quase nunca o poema tá pronto. Sempre tem uma questão a resolver...

Como Foi vencer o SLAM TAGARELA?
Foi sofrido... kkkk Quase perdi... Eu sou competitiva, e isso é ruim, pois interfere na performance. Gosto mais quando falo poesia despretensiosamente, sem esperar ganhar. E sempre falo assim, mas na final, tinha uma pressão extra, a vaga pro Slam BR e a baita vontade de ir lá representar o Rio. Essa pressão me atrapalhou, mas não somos perfeitos, né?

E quais são os seu poetas/escritores favoritos?
O meu poeta favorito é o meu pai, que foi quem primeiro me levou a rodas de poesia do Brique da Redenção em Porto Alegre/RS quando eu tinha uns 7 anos de idade e me despertou esta possibilidade.
Tenho também uma admiração e gratidão enorme ao Paulo Azevedo que me mostrou o que era o Slam Poetry.


Depois deles vem Manuel Bandeira e Vinicius de Moraes que me despertaram a leitura e Ferreira Gullar que me libertou das rimas.

Mas gosto desses livros de ficção tipo Dan Brown, autoajuda, livros de Wicca, bíblia, dicionário, bulas de remédio e anônimos do Facebook.

Quais são seus superpoderes?
Empatia com o sofrimento das pessoas, lutar pela verdade e estar aberta a repensar minhas próprias crenças.

Por qual motivo largaria a sua arte ou nunca LARGARIA?
Não é uma questão de largar ou não largar a arte. A arte é uma necessidade fisiológica, é minha maneira de extravasar das minhas questões e não cair em depressão ou surtar. Não há alternativa, a alternativa seria mostrar ou não mostrar pras pessoas, mas agora, já comecei a mostrar, agora já era...

Escrever já deu ou te da grana?
Falar poesia já me rendeu mais frutos que escrever, já recebi cachê pelo meu trabalho sim. É justo que isso aconteça. Aproveito pra citar Cacilda Becker "Não me faça fazer de graça a única coisa que sei fazer cobrando"



Qual foi o melhor momento de sua carreira?
Carreira? Ainda estou construindo um trabalho... O melhor momento um dia virá.

E qual foi o melhor momento como pessoa?
Foram dois, o nascimento dos meus filhos.

Se alguém xerocar seu Zine e passar adiante, isso iria te incomodar?
Não. Façam isso, por favor, assim economizo com a gráfica. Coloquei online pra facilitar o processo... [http://issuu.com/leticiabrito/docs/livrodalele]
Apenas me incomodaria se me plagiassem, ou mudassem a fonte, ou não citassem. Já aconteceu. Já tive frase minha que virou Clarice Lispector no Facebook, seria uma honra ser comparada à Clarice, mas não desta forma.

Quais são seus amigos mais fiéis?
São poucos, mas são verdadeiros. 

Dia ou Noite?
Noite, sempre

Qual é sua cor preferida?
Negro

Qual é seu prato favorito?
Miojo

Tem fé em alguma coisa? em que?
Na vida, na sincronicidade, nas forças da natureza, na gratidão aos meus antepassados, na lei do retorno.

Se você morresse hoje o que faria amanha?

E os projetos futuros? Tem algum em mente?
Muitos, o primeiro é me organizar melhor pra que eles aconteçam. O segundo é fazer um livro, ou CD com meus poemas.

Indique um poeta, que precisamos entrevistar?
Eu ia gostar de ler uma entrevista com o EmersonAlcalde

Deixe um recado para seus fãs...
Fãs?? Assim no plural?? hahaha Mãe, onde quer que você esteja, muito obrigada por você ter me apoiado.

... um outro recado para os que não gostam do seu trabalho...

... E um para os que ainda não conhecem o seu trabalho ...



Deixei um poema seu para nossos leitores?
Soneto da Lavagem Cerebral 
Nem mais cinza, nem mais chata existe
Que a chuva fina, leve, densa e vazia
Se o carioca, sem casaco, insiste
Ela espanta e traz uma frente fria 
E onde houvesse rua, correm afluentes
E onde musas nuas, cobrem-se doentes
E onde houvessem casas, resta lama
E se houve governo? Má fama 
E já nem Copa, samba e futebol
Globeleza, mulata, pão, circo
Nada alegra, se não houver o sol 
E o povo crítico, unido, pensa
Cadê a verba? Quê fiz com o voto?
Que chova forte nas mentes, intensa! 
(Letícia Brito - 11/12/13)  
http://www.leticiabrito.com.br/2013/12/soneto-da-lavagem-cerebral.html

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