quinta-feira, 22 de maio de 2008

ARTUR DA TÁVOLA (1936-2008)Acabou o “sempre mais!”


Por Alberto Dines em 12/5/2008


Encerrava invariavelmente os programas de música clássica com a saudação "sempre mais!" Nunca lhe perguntaram e nunca explicou a origem do seu motto. Desnecessário: só Paulo Alberto Monteiro de Barros e seu heterônimo Artur da Távola poderiam utilizar uma divisa tão delicada e ao mesmo tempo tão misteriosa junto ao nome em um programa de rádio.
A frase tinha algo de oriental, fruto talvez da sua longa convivência com Carl Jung, o psicanalista suíço que buscou no budismo as chaves para os mistérios do inconsciente. E também algo de escoteiro: Paulo Alberto nunca deixou de ser o adolescente sonhador, idealista incurável, humanista impenitente.




Nos áureos tempos da Rádio MEC (início dos anos cinqüenta), vinha aos estúdios da Praça da República com o uniforme do Colégio Pedro II, onde estudava (não era longe). Convivendo com aquele primoroso time de herdeiros do patriarca da nossa radiofonia, Roquete Pinto, adorava repetir o velho slogan da emissora: "Pela cultura dos que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil".
Conhecia rádio como poucos, a voz era modulada, escrevia divinamente bem e antes que Marshall McLuhan se tornasse o guru da comunicação já era um estudioso da comunicação de massas e um notável comunicador.
Consumido pela duplicidade
Sem o seu zelo, habilidade e sem a confiança que despertava nos seus pares, o Conselho de Comunicação Social jamais conseguiria tornar-se realidade. Quando o órgão encerrou o seu primeiro mandato, Paulo Alberto já não era senador – isso talvez explique o misterioso desaparecimento do CCS.
Participou do programa inaugural do Observatório da Imprensa na TV (5/5/98), tornou-se "freguês" assíduo e, na última vez (em 25/03/08), teve forças apenas para um depoimento gravado. Doçura pessoal mantida, apesar da visível fadiga.
Um senador melômano é combinação rara em qualquer parte do mundo. Mas este senador melômano era um ativista nato. De dia estava no plenário, colocando sua alma e sua cultura a serviço da República, e, à noite, o telespectador o encontrava na programação da TV Senado, apresentando regularmente seus inesquecíveis programas sobre música erudita.
Cabeça política privilegiada e uma ilimitada capacidade de entregar-se às missões assentavam-se no vasto saber que aflorava com naturalidade através daquela eloqüência cativante.
A intensa duplicidade consumiu-o. A derrota para Marcello Crivella na disputa por uma cadeira do Senado feriu-o profundamente. Pertencia a uma estirpe de cariocas que ainda acreditava na recuperação da antiga Cidade Maravilhosa. Não foi uma derrota pessoal, foi a certeza de que o seu Rio se extinguia.
Seu nome de guerra e pseudônimo literário tem a ver com os valentes e os galantes Cavaleiros da Távola Redonda reunidos pelo Rei Artur (século 12) numa mesa sem cabeceira onde todos eram iguais.
Este que agora se foi era ímpar – "sempre mais!"

Comentários do Miçanga: esse foi um homem extraordinário que tive a oportunidade de pelo menos uma vez na minha vida velo, ouvi-lo e fazer com que me escuta se, e me entendesse... ele me fez abrir os horizontes do que eu achava ser musica e na minha eterna busca pela musica, em especial na musica eletrônica (pasme) ele me mostrou como no Bolero de Ravel já predizia que estaríamos fazendo neste conturbado século XXI. Foi se um mestre, que tinha respeito e orgulho de ter apertado sua mão.

SER JOVEM de Artur da Távola

Ser jovem. Quem não gosta de permanecer jovem?
Ser jovemé amar a vida, cantar a vida, abraçar a vida,perdoando até as pedradas que a vida nos joga em rosto.
Ser jovemé Ter altos e baixos, entusiasmos e desalentos.É vibrar com os momentos bons e passar por cima do que nos machuca, com um sorriso fácil apagando os percalços.
Ser jovem é apiedar-se dos mais fracos, não ter vergonha de fazer um sinal da cruz em público,cantarolar uma canção em pleno ônibus.E apreciar uma piada gostosa.
Ser jovemé escrever diário, às vezes.Copiar poesias de amor e remetê-las ao namorado,à namorada, com assinatura própria.
Ser jovemé compadecer-se de quem sofre, com aquela vontade imensa de fazer o milagre da cura,de restituir a saúde àqueles que a gente estima e ama.
Ser jovemé beber um lindo pôr-do-sol,ar livre e noites estreladas. Não se intrometer na vida alheia, fazer silêncios impossíveis, ficar ao lado das crianças, gostar de leitura, Ter ódio de guerra e de ser manipulado.
Ser jovem é Ter olhos molhados de esperança eadormecer com problemas,na certeza de que a solução madrugará no dia seguinte.
Ser jovem é amar a simplicidade,o vento, o perfume das flores, o canto dos pássaros. Ter alegria ao dramático, ao solene. E duvidar das palavras.
Ser jovem é vibrar um gol do time,jogar na loteria esportiva, emocionar-se com filmes de ternura esimpatizar secretamente com alguém que a gente viu só de passagem.
Ser jovem é planejar praias no fim do ano,sonhar com um giro pela Europa e uma esticada pela Disneylândia... algum dia.
Ser jovem é sentir-se um pouco embaraçado diante de estranhos,não perder o hábito de encabular,tremer diante de um exame e detestar gente gritona e resmunguenta.
Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama, caminhar na chuva, iniciar cursos de inglês e violão, sem jamais terminá-los.
Ser jovemé não dar bola ao que dizem e pensam da gente.Mas irritar-se, quando distorcem nossas melhores intenções.
Ser jovem é aquele desejo de fazer parar o relógio, quando o encontro é feliz, quando a companhia é agradável e a ventura toma conta do nosso ser.
Ser jovem é caminhar firme no chão, à luz dalguma estrela distante.
Ser jovemé avançar de encontro à morte,sem medo da sepultura e do que vem depois.
Ser jovemé permanecer descobrindo, amando, servindo,sem nunca fazer distinção de pessoas.
Ser jovemé olhar a vida de frente, bem nos olhos, saudando cada novo dia, como presente de Deus. Ser jovemé realimentar o entusiasmo, o sorriso, a esperança, a alegria, a cada amanhecer...
"Ser jovemé acreditar um pouco na imortalidade, em vida. É querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível.
Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali.É só pensar na morte, de vez em quando.É não saber nada e poder tudo.
Ser jovem é gostar de dormir e crer na mudança.É meter o dedo no bolo e lamber o glacê.É cantar fora do tom, mastigando depressa, mas engolir devagar a fala do avô.
Ser jovem é embrulhar as fossas no celofane do não faz mal.É crer no que não vale a pena, mas ai da vida se não fosse assim.
Ser jovemé misturar tudo isso com a idade que se tenha,trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta ou dezenove.É sempre abrir a porta com emoção. É abraçar esquinas,mundos, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha,com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa,dentes brancos e tímidos, todos prontos para os desencontros da vida. Com uma profunda e permanente vontade de ser"

Casa de Cultura Artur da Távola: http://www.arturdatavola.com

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